terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Estive sem computador quase uma semana, agora estou de mudança e absolutamente sem tempo para minha querida Agatha.
Ela dizia gostar de mudar de casa. Comprava, reformava, decorava, morava algum tempo, vendia - era quase uma mania.
Eu já mudei de casa várias vezes, desde a infância (acho que já morei em onze casas), mas agora estou me sentindo exausta com essa nova empreitada. Depois eu conto mais.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Agatha Christie não tinha muita simpatia pelas mulheres futeis e inuteis. Suas herdeiras não recebem compaixão e, ao contrário, as mulheres lutadoras são alvo de sua admiração. A cabelereira de Morte nas Nuvens, a enfermeira de Morte na Mesopotâmia e muitas outras são desse tipo.
No livro Morte no Nilo, AC nos apresenta uma variedade de mulheres, cada uma representativa de sua classe:
1- a herdeira rica, mimada e que pega tudo o que lhe interessa sem ligar para o outro;
2- a apaixonada doentia que também não vê o próximo, só pensa em si mesma;
3- a escritora de livros eróticos e, por isso, marginalizada pela moral da época. Esconde sua mágoa na bebida;
4- sua filha abnegada e disposta a tudo para preservar o que resta de dignidade em sua mãe;
5- a mãe dedicada ao extremo a seu filho único que ela sabe ser um inutil;
6- a americana, velha e rica, que expressa bem o tipo de cidadão americano que o mundo odeia. Despreza e pisa em todos ao seu redor. Pensa que é dona do mundo;
7- a parente pobre (já foi rica), mas de boa índole, coração meigo, obediente e, no fim, premiada: dois pretendentes e a coragem de escolher segundo o seu coração;
8- a acompanhante (enfermeira) da ricaça: competente, sabe o que tem a fazer e faz seu trabalho bem feito;
9- a criada francesa, símbolo da mulher ambiciosa e burra. Se dá mal, é claro.
AC usava poucos personagens, nove mulheres num só livro é uma façanha e tanto.

domingo, 14 de novembro de 2010

Quando começo a ler um livro gosto de saber o local (cidade) onde transcorre a ação. Os livros de Agatha Christie, quase todos, são ambientados na Inglaterra, uns poucos no Oriente Médio, alguns na França, na Africa do Sul, ilha do Caribe, Egito.... Há até um passado no Egito Antigo!
Mesmo na Inglaterra gosto de me situar e saber onde ficam as aldeias citadas. Procuro até no mapa.
Ler é viajar sem sair de casa. Visitamos e conhecemos um pouco de Torquay, Dartmoor, Devon, Dorchester, Dover, Calais e, claro, Londres. E vamos a Paris, Riviera Francesa, uma ilha ensolarada no Caribe, navegamos pelo Rio Nilo, viajamos com o Orient Express e vamos a muitos e muitos outros lugares em seus inúmeros contos.
Ainda na semana passada li um bom livro policial que, desconfio, é passado na Italia (o autor é italiano) mas o nome da cidade não é mencionado e não identifiquei qualquer bairro ou rua.
Até o nome dos personagens não me ajudou : Vasquez, Boris, Stern, Gavilla, Sarah, Roche, Rockford, Birmann, Clarisso - uma salada. Mas o livro é bom embora violento o que deixaria Hercule Poirot desconcertado. Muito sangue.

sábado, 6 de novembro de 2010

Depois de uma semana de abstinência de Internet continuo com minhas lembranças dos trens em Agatha Christie. Ela também falava das pequenas viagens pelo interior da Inglaterra, principalmente as viagens das 5as. feiras quando a tarifa era reduzida e as pessoas iam a Londres para fazer compras.
Os trens diários que ligam praticamente todas as cidades inglesas são cenários sob medida para A.C. No trem das 4:50 que sai de Paddington, alguém vê um crime ser cometido e torna-se, assim, a Testemunha Ocular do Crime quando dois trens, por poucos minutos, correm paralelos.
Outro detalhe acerca dos trens: quase todo mundo viajava de 2a. classe (a 3a. classe era para os mais pobres) e a 1a. era privilégio dos muito ricos ou esnobes.
Em criança eu viajei muito de trem, morava em Minas Gerais e visitava minha avó, no Rio, várias vezes no ano. Eram viagens maravilhosas, com minha mãe enjoando o tempo todo. Nos últimos anos fiz alguns passeios no que restou de trens de passageiros - Curitiba/Paranaguá, Angra dos Reis, Miguel Pereira.... Turismo.... Não é a mesma coisa, mas dá para o gasto.

sábado, 30 de outubro de 2010

Agatha Christie, como eu, amava os trens e, em seus livros, percebemos o quanto ela gostava deles. Um dos mais famosos de seus livros é passado no trem de luxo - Orient Express - que ligava, naquele tempo, Londres/Paris indo até Constantinopla. Hoje, parece-me, diminuiu esse percurso .
Em 1988 tirei uma foto na plataforma da Victoria Station tendo, ao fundo, os vagões desse trem lendário. Viajar no Orient Express é, até hoje, um dos meus sonhos de consumo .
Também no trem que liga Paris à Riviera Francesa - o Trem Azul - acontece um crime. A.C. diz, em sua auto-biografia, que não gostava desse livro, mas eu gosto. Meio irreal, mas nos faz sonhar com essa história de mulher pobre, não muito jovem, que encontra o amor já no "outono da vida". Muito romântico. Viajar de trem é romântico.
Os trens diários que ligam cidades inglesas também são cenários para A.C. nos fazer viajar neles. Amanhã eu continuo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quando começo a ler qualquer livro, procuro conhecer onde e quando acontece a ação. Como leio muito, vários autores, de vários paises, preciso situar-me no tempo e no espaço.
Antes de mais nada é preciso saber que Agatha Christie era inglesa, escreveu de 1930 até mais ou menos 1970, e dos seus muitos livros quase 80% (incluindo os contos) 70 são passados na Inglaterra e 12 em outros paises. (Essa pesquisa não é muito garantida).
Esses livros estão distantes de nós, no tempo, em até 90 anos, e precisam ser lidos levando-se em conta esses fatores.
Os costumes, os hábitos ingleses, mesmo nos dias de hoje, são muitas vezes estranhos, imagine os costumes daquela época.
As casas têm nome, eles comem rins de cordeiro no café da manhã, tomam chá a toda hora, jogam bridge como se fosse uma devoção, dirigem pelo lado direito da rua e o dinheiro... Ah, o dinheiro de antes: soberanos, coroas, libra esterlina, guinéus, shillings, pence - ainda bem que hoje temos a libra dividida em 100 pence.
Naqueles tempos todo mundo fumava e era de bom tom ter cigarros em casa para oferecer às visitas; os ricos viajavam sempre com uma criada de quarto ou um valete - para ajudá-los a se vestir e desvestir; os jardineiros eram essenciais e não podiam faltar nas casas; usava-se tinteiro, pena e mata borrão e sempre havia na casa muitos selos do Correio.
Mas um hábito salutar e muito querido para mim são as viagens de trem. Como os ingleses viajavam de trem, chega a dar inveja. A.C. adorava andar de trem e seus personagens estavam sempre a bordo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os livros de Agatha Christie não são muito grandes e o número de páginas quase não excede 300. Ela dizia que 60 mil ou 70 mil palavras era um bom tamanho.
Há, também, os contos - histórias curtas e aí A.C. pode ser até considerada uma pioneira do Twitter. Em poucas palavras ela apresenta um personagem e faz dele uma presença marcante.
Por isso os livros de A.C. são fáceis de ler e fazem sucesso até hoje. Não são necessárias páginas e páginas, palavras e palavras, para se contar uma boa história policial.
Hoje os livros policiais tem mais de 500 páginas e algumas pessoas podem ficar "perdidas" lá pelo meio da trama. Minha mãe que até aos 90 anos era uma leitora voraz, lia tudo na diagonal. Ela dizia que só lia o "essencial".
A.C. não é Marcel Proust, Miguel de Cervantes, James Joyce, Gabriel Garcia Marques. Longe disso. Mas seus livros estão vivos até hoje, suas histórias são bem escritas e podemos ter o mesmo prazer hoje como na primeira leitura.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quando se fala de livros policiais é comum apontar o mordomo como o óbvio criminoso. Nos livros de Agatha Christie isso não é verdade, pois seus mordomos, figuras obrigatórias nas mansões onde os crimes são cometidos, na maior parte das vezes, são muito simpáticos, leais, dedicados aos seus patrões e... inocentes.
Alguns podem até ter uma ficha criminal, mas nada relacionada com o crime ali acontecido.
Nos ambientes formais, cenários dos livros de A.C., a presença de um mordomo era normal assim como um certo número de empregados domésticos. Eram outros tempos e todos tinham cozinheiras, ajudantes de cozinha, criadas de sala, criadas de quarto, valetes, babás (nurses), governantas, jardineiros, motoristas, secretários.
Hoje esse número de serviçais está muito diminuído mas, no mundo de A.C., eles eram essenciais.
Os mordomos têm nome e, aficionados que somos, sabemos esses nomes: Tredwell , o pomposo mordomo de Chimneys; Tressilian, há quarenta anos na casa (O Natal de Poirot); Lorrimer , de Um Corpo na Biblioteca; Lanscombe, cambaleante em Depois do Funeral; Alton, jovem alto, louro e quase um deus grego, na casa de Lord Edgware; Ellis, que some de cena em Tragédia em Três Atos; Gurgeon, fiel e dedicado à Mansão Hollow.
Esses são alguns deles e, é claro, não é possivel esquecer de George, o prestimoso mordomo de Hercule Poirot e que aparece em várias de suas aventuras.

sábado, 16 de outubro de 2010

No dia 12 de outubro terminei a releitura dos livros de Agatha Christie. Foram 76 novelas e contos policiais e duas peças de teatro. Não sei se me faltou algum, talvez uns livros de contos que não encontrei à venda na época que adquiri os demais.
As pequenas resenhas que fiz não esgotam o assunto A.C. para mim. Há muito ainda para relembrar, muito embora algumas pessoas (até um querido amigo meu) não considere A.C. uma escritora de verdade e que não merece tanta atenção assim. Ela pode não ter sido digna de receber um prêmio Nobel, mas a Academia sueca não premia autores que ganham muito dinheiro com seus livrinhos e tenham muitos leitores em todo o mundo. Para os donos do Nobel isso é um defeito grave, bom é escritor que ninguem lê.
Mas eu continuo firme na minha admiração por A.C., sou sua cúmplice nas tramas (ingênuas ?!) que armava, gosto até dos erros que encontro.
Vou, daqui para frente, abordar algumas peculiaridades de suas histórias. Aguardem.

terça-feira, 12 de outubro de 2010


"Cai o Pano" (Curtain) é o último caso de Hercule Poirot e foi escrito em 1957 (segundo alguns), mas Agatha Christie só resolveu publicá-lo em 1975, encerrando assim a carreira de H.P.
A ação desenrola-se no mesmo local do primeiro livro de A.C. e de H.P.: a mansão Styles, agora transformada em um pequeno hotel, e seus hóspedes são o que se pode chamar de uns fracassados, mas que ainda podem ser salvos.
H.P. está muito velho, alquebrado, está numa cadeira de rodas (mas com os cabelos pretos) e, mesmo assim, vai mostrar que não perdeu os seus dons.
Morre quem devia morrer e vive quem devia viver e, é com chave de ouro que H.P. se despede.
Para não perder o rítmo, há um veneno diferente (um alcalóide estranho) e Hastings, o fiel escudeiro, continua o mesmo bobão de sempre.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010


"Testemunha de Acusação" (Witness for the Prosecution) é a segunda peça teatral mais famosa de Agatha Christie e, a meu ver, a melhor.
Ler teatro é um tanto complicado e como só li esse livro muito depois de ter assistido o filme (maravilhoso), meu julgamento ficou prejudicado.
O filme, de 1957, dirigido por Billy Wilder (genial) e tem interpretações perfeitas de Charles Laughton, Marlene Dietrich, Tyrone Power, Elza Lanchester....
A história é simples: jovem ambicioso mata mulher mais velha e rica.
O amor extremado de uma mulher levá-a ao prejúrio para salvá-lo. Para salvá-lo para outra, afinal o rapaz não valia nada mesmo. Mas o final é ótimo e nada há a crescentar.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010


"Noite sem Fim" (Endless Night) foi escrito, em 1950, num curto espaço de seis semanas, conforme informações da própria Agatha Christie.
É um dos poucos livros de A.C. que eu não gosto, embora seja bem escrito e com história verossímel. Mas não me agradam esses dramas sinistros, muito tristes, com pessoas más fazendo sofrer pessoas boas, simples e ingênuas. É o meu lado sensível, romântico e ultrapassado.
Mais uma vez A.C. faz sofrer um herdeira que, despreparada e sem apoio, cai fácil na mão dos lobos maus.
Quando da escolha do nome para a nova casa - Campo do Cigano - já ficamos sabendo que o sonho não vai dar certo.
Em 1950, como até hoje, as jovens são atacadas mas, na verdade, hoje elas também não são tão boazinhas assim.

domingo, 3 de outubro de 2010


"A Noite das Bruxas" (Halloween Party) é de 1969 e nele Agatha Christie nos leva até a uma festa de Halloween, muito popular na Inglaterra e EEUU. Estão querendo implantá-la aqui, mas está dificil as crianças entrarem nos prédios de apartamentos para, de porta em porta, pedirem travessuras ou gostosuras. Ridículo!
A escritora de livros policiais, Ariane Oliver, é uma mulher de muitos amigos, por toda a Inglaterra e, dessa vez, visita uma amiga e sua filha adolescente. Daí elas irem a tal festa infantil onde ocorre um crime bárbaro: uma jovem de 13 anos é assassinada.
Muito angustiada, ela pede ajuda a seu amigo Hercule Poirot que não se faz de rogado. Vai até a pequena cidade e, em suas andanças, sofre com seus sapatos apertados. Ele não ouve o conselho: "Depois que se passa dos cinquenta o conforto é a única coisa que interessa."
Mesmo com sapatos apertados H.P. desvenda o crime de agora e mais dois ou três acontecidos no passado.
A beleza nem sempre é uma dádiva, a ânsia pela beleza (em qualquer pessoa ou lugar) pode ser a fonte de muitos crimes.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010


"O Homem do Terno Marrom" (The Man in the Brown Suit) é um dos primeiros livros escritos por Agatha Christie, em 1924, com base nas suas lembranças da viagem de volta ao mundo, que fez com seu primeiro marido.
De sua passagem pela Africa do Sul ela aproveita para forjar uma vida aventurosa para uma jovem destemida e irresponsável.
A viagem de navio, em 1a. classe, da Inglaterra para a Cape Town, custou apenas 87 libras, ela teve enjoo até à Ilha da Madeira, Cape Town foi muito apreciada, há intrigas, diamantes da De Beers, homem misterioso
despertando paixões, viagem de trem até a Rodésia, animais esculpidos em madeira (umas gracinhas), a hospitalidade, as novidades, os acessos de mau humor do Lord que patrocina a viagem ......
Não havia "apartheid" na época (só começou em 1948). A.C. estava feliz e a volta ao mundo foi de graça. Por isso, o livro é tão descontraído.
O romance entre a aventureira e o jovem estranho e sofredor é leve e seu final tipo "teu amor e uma cabana" nos leva a pensar no que aconteceu depois da lua de mel.
O mundo era bem outro em 1924 e a África do Sul não prometia ser o país da Copa do Mundo de 2010. Em algum momento tudo mudou e nós perdemos a inocência.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010


"Os Cinco Porquinhos" (Five Little Pigs) foi escrito em 1943, em plena 2a. guerra, e nele Agatha Christie nos apresenta mais um desafio para Hercule Poirot. Descobrir o verdadeiro assassino num crime ocorrido há 16 anos e com tão poucos personagens - só os cinco porquinhos, é tarefa tranquila para H.P.
É uma investigação como ele gosta: ouvir todos os que tiveram algum contato com os fatos, entrevistar aqueles que, na época, tiveram participação ativa nos acontecimentos - os cinco possíveis culpados e sentar para pensar e rever minuciosamente todo o processo.
As maravilhosas células cinzentas de H.P. entram em ação, a verdade é descoberta e o verdadeiro assassino revelado.
Mas, após tantos anos será que o culpado vai ser punido? A.C. nada revela e seus leitores devem pensar a respeito.

terça-feira, 21 de setembro de 2010


"Os Relógios" (The Clocks) é de 1963 e Agatha Christie, sempre antenada, aborda a questão da espionagem, agentes duplos, simpatizantes com a "causa", cortina de ferro e afins.
Mas o crime que acontece (e os outros dois mais adiante) não tem relação com tudo isso. Como diz Hercule Poirot, é um crime "simples" e ele vai prová-lo com grande satisfação para seu ego vaidoso.
Relógios, estenógrafas, gatos alaranjados, crianças levadas, morto sem identidade, é um bocado de pistas e indicações que dão em.....nada.
Mas H.P. é H.P.
Aquelas casas em crescente são de deixar tonto qualquer um. Quando as vi, pela primeira vez, quase não acreditei. Complicado mesmo.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010


"É Facil Matar" (Murder is Easy) tem como protagonista um homem comum, que volta à Inglaterra aposentado do serviço policial na Palestina e que só espera aproveitar o sossego em sua terra natal, após cumprida sua missão.
No trem para Londres ele trava conhecimento com uma simpática velhinha e esse encontro vai mudar toda a sua vida.
Disposto a descobrir os crimes que, segundo a velhinha do trem, teriam ocorrido em sua pacata cidade, ele vai até lá para constatar que os moradores não acreditam que as mortes não tenham sido por causas naturais. Nem querem ouvir falar de assassinatos.
Mas a mente policial não descansa e um romance que começa a desabrochar, impele nosso herói para um final desconcertante.
No tempo de Agatha Christie havia sempre uma explicação para o comportamento criminoso: era uma tendência na família, impossível fugir a isso e coisa e tal. Hoje somos mais realistas e sabemos ver a maldade desses assassinos.
Há um persongem muito interessante que nos faz lembrar algumas pessoas neste país: os fatos mais estranhos são sempre obras suas, são pessoas que se acham escolhidas para um destino maravilhoso.
O aposentado e a jovem nem tão jovem (afinal ela tem 28 anos) assumem seu amor porque A.C., no fundo, é uma romântica.

terça-feira, 14 de setembro de 2010


"A Testemunha Ocular do Crime" (4.50 from Paddington) deve seu nome em inglês ao trem que sai da estação do Paddington, em Londres, naquele horário. É a velha paixão de Agatha Christie pelos trens!
É um livro também dedicado a Miss Marple, a quase octogenária personagem criada nos anos trinta e, simplesmente, maravilhosa.
Miss M. sabe (e sente) a idade que tem e sabe o que pode e o que não pode fazer. A mente está ótima mas o corpo está claudicando.
Disposta a desvendar um mistério que não lhe diz respeito, ela contrata uma jovem para fazer o "trabalho braçal" . Essa jovem tem um diploma em matemática, em Oxford, mas como ser professora não é uma atividade bem remunerada ela opta por uma carreira de serviços domésticos - que paga muito melhor.
Uma casa (Rutherford Hall), seis cavalheiros (é assim que Miss M. refere-se aos homens), um charmoso inspetor de polícia, uma quase solteirona, dois adolescentes, a velha senhora amiga de Miss M. (a tal testemunha) e vários personagens secundários (coadjuvantes) que A.C. delineia admiravelmente que até os podemos ver.
Miss M. vê confirmada suas deduções quanto ao encontro do cadáver da mulher assassinada no trem das 4.50 e leva o criminoso à prisão.
Quero ficar velha como Miss. Marple.

sábado, 11 de setembro de 2010


"Um Pressentimento Funesto" (By the Pricking of my Thumbs), data de 1968 e nele voltam Tommy e Tuppence. Eles surgiram logo após a 1a. guerra (1914/18), voltaram ao serviço ativo (serviço secreto) durante a 2a. guerra, mais velhos e com os filhos criados (M ou N?).
Em 1968 estão ainda mais velhos (Tuppence está com 70 anos), aposentados e morando no campo. Mas Tuppence não sossega e, inquieta, resolve descobrir o que há de errado na casa de repouso onde uma tia está residindo. Essa tia morre logo depois o que aguça mais o desejo de investigar.
Apesar de recomendada a não se meter em aventuras ela vai em frente e quase se dá mal.
A história tem muitas reviravoltas e seus muitos personagens têm uma característica adorável: são todos idosos, cheios de lembranças e, a todo instante, Agatha Christie nos mostra as pequenas dificuldades que atormentam as pessoas mais velhas.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010


"A Mansão Hollow" (The Hollow) foi escrito, por Agatha Christie, em 1946 e logo transformado em peça de teatro. O título original revela, mais uma vez, o costume inglês de referir-se às casas por seus nomes especiais.
Na agradável casa de campo, Mansão Hollow, esperava-se um agradável fim de semana o que não acontece: um crime de morte é cometido à beira da piscina e surpreende Hercule Poirot que, convidado para o almoço de domingo, depara-se com o assassinato.
À princípio ele pensou que era uma encenação para ele mas, logo viu que era mesmo um crime.
O comportamento dos personagens é, para nós, um tanto estranho mas, como são ricos é assim mesmo. Os ricos não ligam para convenções.
A trama revela amor e adoração, no que eles têm de pior. Os personagens não se limitam a amar, é preciso adorar também.
H.P. luta com uma mente tortuosa mas, ao final, ele vence.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010


"Treze à Mesa" (Lord Edgware Dies), um dos primeiros livros escritos por Agatha Christie (em 1933), tem uma trama complicada que requer muita atenção de seus leitores.
Há troca de identidade, carta rasgada, intervalo de ópera servindo para ações excusas, mordomo jovem e bonito, duques e duquesas, almoços e jantares requintados, idas e vindas a Paris e, principalmente, uma mente vazia (mas muito ardilosa) que quase derrota Hercule Poirot. O fiel amigo, capitão Hastings aparece, como sempre, tirando suas conclusões erradas.
Quase todas as pessoas envolvidas são egoistas e os egoistas , como sabemos, são sempre muito maus.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010


"Os Crimes do ABC" (The ABC Murders) foi escrito em 1935/36 e, passados 75 anos ainda me encanto com o pioneirismo de Agatha Christie. Hoje é comum traçar o perfil de alguém, seja de um criminoso ou de um candidato a emprego. Isso não vale para os políticos, pois eles todos têm o mesmo perfil e já sabemos qual.
Após três assassinatos Hercule Poirot analisa todas as possibilidades e traça um perfil do criminoso que, ao fim , vai se revelar perfeito.
Igual ao pessoal da "Análise Comportamental" do FBI.
A Inglaterra é um país de pequena dimensão (mais ou menos do tamanho do estado de São Paulo) e fica fácil movimentar-se de uma cidade para outra. Queria ver na China, ou no Brasil. Claro que aqui os crimes teriam que ficar restritos a uma cidade grande, tipo Rio ou São Paulo. Teríamos, então, um Alberto Azevedo no Andaraí, uma Beatriz Barbosa na Barra, um Carlos Carvalho em Cascadura e por aí.
A.C. não deixava passar nada do que acontecia no seu mundo e dele falava mesmo que fosse "en passant". Aqui é a caça à raposa, uma bobagem inglesa.

domingo, 5 de setembro de 2010


"Um Passe de Mágica" (They do it with Mirrors), é um livro sobre o ilusionismo e como os nossos sentidos (pricipalmente a visão) podem ser enganados. Nós vemos o que queremos e esperamos ver. Não ficamos atentos ao mundo ao nosso redor e os espertos disso se aproveitam.
Pessoas boas, com bons propósitos e altos ideais nem sempre conseguem bons resultados. São traídos pela realidade, são traídos por sua índole visceralmente má e não se deixam resguardar das ciladas do mal.
O amor é possível mas, às vezes, custamos a descobri-lo e é preciso que alguém como Miss Marple chegue a Stonygates para descobrir a verdade escondida e revelar o mal que está encoberto. Enfrentado a tempo, vidas inocentes de uma outrora pacata mansão, são resgatadas e a paz pode voltar a reinar.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010


A experiência de Agatha Christie com o meio teatral é aproveitado nesse livro que envolve atores, atrizes e autores teatrais. "Tragédia em Três Atos" (Three Act Tragedy) é dividido em três partes: suspeita, certeza e descoberta, com direito a cortina final.
Mas esses três atos poderiam ter outros nomes: ensaio, estreia e crítica (dia seguinte) como acontece com as demais peças. Mas aí não haveria o mistério! Para mim, o mistério não é tão importante, o que vale é o modo como os acontecimentos são apresentados e as reações dos envolvidos.
Apesar de dificil, A.C. consegue sempre inventar motivos diferentes para um crime que vão além do dinheiro e da paixão embora, no fim, eles sempre apareçam.
Mas é interessante a tentativa de se saber, afinal, o motivo de um assassinato sem motivo.
Hercule Poirot reconhece, meio sem graça, como sua vida esteve em perigo e ele não desconfiou de nada. Mas valeu a lição.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010


"Por que não pediram a Evans?" (Why didn´t they ask Evans?) é um título sugestivo para um dos menos conhecidos livros de Aghata Christie.
Pessoas normais (comuns), têm suas vidas atropeladas por pessoas incomuns - pessoas más e criminosas.
Essa é mais uma aventura de dois jovens envolvidos em uma trama complicada, com muitos personagens, idas e vindas. Fiquei até um pouco confusa mas A.C. é assim mesmo, gosta de jovens aventureiros, corajosos, mulheres decididas. Escrito em 1935, nos anos que antecederam a 2a. guerra, mostra como pessoas com dinheiro têm seu ir e vir facilitado.

terça-feira, 31 de agosto de 2010


A vida das moças ricas, herdeiras de grandes fortunas, nunca foi, para Agatha Christie, um mar de rosas. Rodeadas de invejosos, interesseiros, aproveitadores e pessoas sem escrúpulos, elas passam muitas desventuras.
Este livro, "A Terceira Moça"(Third Girl), foi escrito em 1966, tempo dos Beattles, da mini-saias, dos jovens cabeludos com roupas espalhafatosas e... sujas.
Hercule Poirot, chamado a princípio, tem seus serviços recusados porque foi considerado "velho". Magoado, é claro, mas tambem curioso a respeito da pessoa que o procurou, ele entende que é sua obrigação ajudá-la, velho ou não.
Os personagens principais, como sempre, são poucos: pai, madrasta, filha, namorado da filha, tio muito velho, sua secretária bem novinha e as duas moças que se juntam à 3a. moça.
Em Londres, em 1966, persistia o endereço pelo nome das casas (não sei se ainda é assim). As jovens moram num prédio de apartamentos - Borodene Mansions, 67 - sendo 67 o número do apartamento delas. Em que rua fica Borodene Mansions?
Junto com H.P. aparece sua amiga, escritora de livros policiais, a Sra. Ariane Oliver, uma figura. Come maçãs o tempo todo, não bebe álcool e está sempre mudando de penteado. Como A.C., ela criou, em seus livros, um detetive, finlandês, solteirão e vegetariano, que ela detesta. (Mas seu público gosta). Exuberante, imaginativa, A.O. rouba qualquer cena, o que faz muito bem. H.P. com a costumeira vaidade, descobre toda a sórdida trama e denuncia os culpados. Felizmente.

domingo, 29 de agosto de 2010


Ontem reli um livro passado no Egito de 2.000 anos a.C., hoje tenho em mãos um relato mais recente envolvendo o Rio Nilo. "A Morte no Nilo" (Death on the Nilo), escrito por Agatha Christie, em 1937, apresenta uma trama bem a seu feitio e, como sempre, bem estruturada.
A rica herdeira, bonita, inteligente e acostumada a ter o mundo a seus pés, viaja em lua de mel, pelo Rio Nilo, visitando os lugares turísticos de sempre, mas não está feliz. Com seu modo de agir ela fez muitos inimigos que estão, agora, no barco que viaja pelo Nilo.
Este é um livro sobre o amor, amor exagerado, amor desesperado, amor sem limites. Quem ama dessa forma não liga para o que está a sua volta e não se importa com o mal que pode causar aos outros.
Mulheres fortes, decididas e capazes de qualquer coisa são uma constante nos livros de A.C. Na viagem acontecem três mortes e só a inteligência de Hercule Poirot pode desvendar o mistério.
A versão para o cinema, feita em 1978, pelo diretor John Guillermin, é muito satisfatória, na minha opinião. Peter Ustinov como H.P. e mais um elenco primoroso (Mia Farrow, Bette Davis, David Niven, Jane Birkin, Angela Lansbury......) fazem jus ao livro e, até hoje, gosto de revê-lo.
Uma coisa sempre reparo em A.C.: no geral, seus persongens masculinos retratam homens fracos e inexpressivos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010


Atendendo a uma sugestão de um professor amigo, Agatha Christie escreveu, em 1945, "E no Final a Morte" (Death comes as the End), passado em Tebas, no antigo Egito, por volta do ano 2.000 a.C.
Mas podia ser em qualquer outro tempo ou lugar. As pessoas e os fatos são, naquela época e hoje, praticamente os mesmos. Egito antigo, Londres, São Paulo, tanto faz, só os costumes são diferentes e demandam pesquisa, consulta a pessoas entendidas no assunto.
Naquele tempo não havia o Google e tudo ficava mais trabalhoso.
Uma grande propriedade, um homem muito rico e dominador, seus filhos submissos, suas noras insatisfeitas e os demais agregados e empregados participam da trama em que são cometidos sete assassinatos. Os fãs de A.C., naquela época, devem ter vibrado de satisfação.
Duas coisas chamam a atenção no livro: Não se deve dar poder aos muito jovens e não se pode negar poder aos mais velhos.
O Principe Charles já está passando da idade de ser rei e seu filho William ainda é muito novo para isso. Elizabeth II está num dilema, eu acho.
O cenário, as cheias do Rio Nilo, os costumes religiosos, a reverência para com a morte, os hábitos do Egito, há 2.000 anos a.C. são fascinantes e as comidas despertam nosso apetite para o exótico.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Em 1954, ao escrever "Um Destino Ignorado" (Destination Unknow) Agatha Christie mostra o quanto ela era atualizada. Cientistas atômicos, simpatizantes comunistas, cortina de ferro, paz universal, colaboração entre os povos, tudo o que estava na moda naqueles anos do pós-guerra.
É uma aventura com todos os lances de espiões e conspiradores mas, no fim, os ideais que movem as pessoas são os mesmos de sempre. Os ingênuos e os espertalhões são todos iguais é só uma questão de dinheiro e poder.
O cenário escolhido é Casablanca, sem o Rick's Café, que pena, e AC revela sua simpatia por esses lugares "exóticos".
Absurdos à parte, é um livro agradável e, nós, seus fãs nos deleitamos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Quando comecei este blog era minha intenção falar das minhas lembranças e da admiração que tenho por Agatha Christie. Pretendia escrever diariamente, mas não contava com um fator imprevisível.
Sempre tive boa saúde mas, na 6a. feira, 24/7, fiquei acamada com o que, dizem, ser um ROTA-VIRUS. (Seja lá o que for isso!)
Mal voltei à minha rotina diária sofri, no dia 28/7, na minha cozinha, um desmaio que me levou ao Hospital São Lucas. Fui medicada (2 pontos na cabeça) e, por precaução, ganhei 3 dias no CTI.
Voltando para casa, no dia 31/7, vi que meu blog precisava ser revitalizado mas, muito fraca, estou relaxando.
Espero, no entanto, que em breve possa voltar à velha forma.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

-continuação -
Hercule Poirot é convidado para entregar os prêmios aos vencedores e, nesse aparente cenário inocente há, no entanto um quê de suspeito que não escapa à sensibilidade de A.O. Daí ela ter recorrido ao amigo H.P. para descobrir o mistério.
Agatha Christie reúne um grupo de personagens bem diversos: os donos da casa, a secretária, a esposa de um político local, um chamado capitão (empregado e "faz tudo"), um jovem casal hospedado na vizinhança, um arquiteto, a velha senhora (antiga proprietária da Mansão Nasse) e os moradores locais: um barqueiro de 92 anos, os criados, as jovens da vila. Aparece ainda um homem estrangeiro (das Ilhas Ocidentais) a bordo de um luxuoso iate.
A morte de uma jovem envolvida na "caçada" deixa frustado H.P. já que o inquérito nada apurou.
Mas acontecimentos posteriores levam H.P. a entender toda a trama e descobrir o assassino que, a esta altura, já havia cometido mais dois crimes.

"A Extravagância do Morto" (Dead Man's Folly) faz referência a uma construção, edificada em algum ponto de uma propriedade, por desejo de seu proprietário. Não tem função alguma - é uma extravagância e, nesse caso é "um pequeno trambolho fincado no meio das árvores e não é visto de lugar algum."
A mansão da extravagância, foi construida em 1790 para substituir uma outra (de 1700) destruída por um incêndio. O local sempre foi habitado por uma mesma família desde 1580 e, hoje, por motivos financeiros, foi vendida para um novo rico.
Agora, a mansão é palco de uma festa campestre beneficente e uma das atrações é uma "Caçada ao Assassino". Elaborada pela Sra. Ariadne Oliver, a escritora de livros policiais, é uma versão da conhecida "Caça ao Tesouro". -continua -

terça-feira, 17 de agosto de 2010


"Um Gato entre os Pombos" (Cat among the Pigeons), escrito em 1959, tem como cenário um colégio para mocinhas ricas onde elas aprendem, além das disciplinas normais, o modo correto de entrar e sair de um Rolls-Royce e como se comportar caso você almoce com a Rainha.
Muito conceituado, o colégio Meadowbank vê sua tranquilidade abalada e sua sobrevivência questionada quando ali acontecem três crimes de morte.
A trama envolve uma revolução em uma cidade do Oriente Médio, um tesouro em pedras preciosas, ambição, ciúme, chantagem.
Mais uma vez Agatha Christie apresenta mulheres fortes, corajosas e determinadas, os homens estão em segundo plano.
A colaboração de Hercule Poirot é outra vez solicitada e ele, como sempre, usa de sua perspicácia para deslindar a complicada rede criminosa.
É um livro que fala do amor entre dois jovens de mundos diferentes que veem seu sonho destruído pela tragédia.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010


Tommy e Tupence estão de volta! Os personagens tão queridos de Agatha Christie apareceram, inicialmente, logo após a 1a. Guerra Mundial e voltaram à ativa, em 1940, como espiões a serviço de Sua Magestade.
Agora, em "Portal do Destino" (Postern of Fate), eles estão velhos, aposentados, com filhos e netos e compram uma casa no campo para usufruir o ócio dos maiores de 70 anos.
A casa adquirida precisa de muitos reparos e AC aproveita para falar de sua própria experiência com o pessoal de obras: pedreiros, bombeiros, encanadores, eletricistas, pintores, etc.
Esses profissionais, em todas as épocas e em todos os lugares são todos iguais. Obra em casa é sinônimo de dor de cabeça, apesar de que eu não tenho o que reclamar dos meus obreiros. Graças a Deus eles fazem tudo dentro do prazo combinado e sem muita bagunça. Mas são caros, é claro, sempre são.
Tommy e, principalmente, Tuppence deparam-se na nova casa com um mistério de 70 anos atrás. Não sossegam até chegar a uma resposta. É muito bom ver um casal idoso em atividade, enfrentando perigos e trabalhos, lutando para resolver um crime antigo.
É um livro que mostra o dia a dia de uma família (até o cachorro tem parte ativa). Livrinho bobo, sim, mas muito meigo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010


"Depois do Funeral" (After the Funeral) é um livro que gira em torno de um testamento. Justo, injusto, não importa, o morto assim o determinou e aos herdeiros não cabe contestar.
A disputa pelos itens materiais da casa é tão comum que vemos isso a cada hora que acontece uma morte. Até por coisas menores isso acontece sempre. As pessoas não mudam.
Hercule Poirot, chamado por um amigo, usa de toda a sua aguda percepção para deslindar um assassinato brutal.
Um dado interessante é a existência de um quadro do pintor holandês Vermeer que até aquela época não havia sido valorizado.
Para Agatha Christie o quadro valia até 5.000 libras. Hoje os poucos quadros de Vermeer (30 ou 34) estão avaliados em milhões de dólares.

sábado, 7 de agosto de 2010


Convidado a rever um caso de assassinato, HP vai se envolver no caso do livro "A Morte da Sra.McGinty" (Mrs. McGinty`s Dead) - uma intrigante história com personagens femininas em destaque. Os homens, a começar pelo acusado do crime, não interessam muito, são as mulheres que fazem toda a diferença.
Há de tudo: a morta, uma faxineira diarista; a incompetente - mas simpática - dona da pensão onde HP fica hospedado; uma solteirona apagada e explorada por uma mãe dominadora; uma velha rica e acostumada a ser tratada com todas as mordomias; a nova rica, loura e bonita, casada com um político; a esquiva mulher do médico; a loura decidida a ajudar investigando.
HP vive intensamente o processo de inocentar o acusado e encontrar o verdadeiro criminoso e, ao final, ainda encontra tempo para planejar um possivel casamento entre dois seres tão sofridos que ele vai reunir e salvar.

Hercule Poirot chegou à Inglaterra, como refugiado da guerra de 1914/18, foi ficando no país e participando das muitas aventuras para ele criadas por Agatha Christie.
Já era velho, aposentado da polícia belga, o que não impediu que até seu último caso - em 1965 - tenha ficado muito mais velho.
HP adotou os hábitos ingleses dos quais, alguns, ele não sentia entusiasmo mas, no geral, ele se adaptou.
Gourmet, HP estava sempre em busca de experiências culinárias não abrindo mão de suas preferências: croissant com chocolate no café da manhã, almoço por volta das 12 horas e a parte principal do dia: o jantar. Ele não comia nada nos intervalos: merenda no meio da manhã ou o chá da tarde tão querido aos ingleses.
Entediado e saciado com os bons pratos que escolhia, HP recebe a visita de um amigo que pede sua ajuda para um caso difícil. (continua)

sábado, 24 de julho de 2010


Este livro "Punição para a Inocência" (Ordeal by Innocence) é de 1958 e, naquele tempo, havia pessoas que prezavam a justiça e os valores éticos.
Um homem, involuntariamente, não presta um depoimento que inocentaria um acusado de homicídio e o rapaz é julgado, condenado e vem a morrer na prisão, por causa de uma pneumonia.
Quando toma conhecimento do fato (ele esteve ausente por dois anos de todo contato com os acontecimentos) ele procura reparar a sua falta procurando os parentes, envolvidos no crime.
Fica surpreso ao ver que não é bem recebido, ele ignora que, se o jovem acusado era inocente, então qualquer um dos familiares (os únicos que poderiam ter cometido o crime) são agora suspeitos.
Não descobrir, agora, o culpado, traz consequências dolorosas: os inocentes, sempre sob suspeita, como poderão continuar a sua vida daqui para frente?
Há necessidade de justiça para o acusado injustamente mas, e os inocentes, serão também punidos?
O livro é seco, doloroso e nos mostra como a caridade não implica, necessariamente, em gratidão. Às vezes, amor demais sufoca.

quinta-feira, 22 de julho de 2010


Em 1935 o vôo do meio-dia da Universal Airlines Ltda., saiu de Le Bourget, em Paris, para Croydon, em Londres, com 25 pessoas a bordo: dois pilotos, dois comissários (1 copa e 2 banheiros) e 21 passageiros em dois ambientes divididos em 10 e 11 pessoas. As bagagens ficavam no fim do avião.
Logo foi servido o almoço: sopa, carne, legumes, salada, doce, queijo, biscoitos e café (pago diretamente aos comissários) e, mais ou menos às 14 horas é constatada a morte de uma passageira - crime cometido na frente de todos os demais.... e ninguém viu nada.
Nem Hercule Poirot que viajava no Prometeu (nome da aeronave) e que só tomou uma água e uns biscoitinhos, dormindo o resto do tempo.
"A Morte nas Nuvens" (Death in the Clouds) é mais um livro de Agatha Christie com poucos personagens e muitos suspeitos: todos os 1o passageiros e os 2 tripulantes.
Decentemente AC nos oferece uma pista e logo depois mais outra que eu, nem quando li da 1a. vez, percebi. E elas eram bem claras.
O crime, como todos os crimes, afeta a vida dos envolvidos e, em alguns casos, para sempre. Para o bem ou para o mal.
HP conduz a investigação com o brilho costumeiro e ainda tem tempo para engendrar dois casamentos, dos jovens bonzinhos da história e, naturalmente, agarrar o criminoso.
Viajar de avião em 1935 era uma aventura. E hoje não é? Tem casos até de 13 banheiros entupidos! Ah, essas companhias estrangeiras...

terça-feira, 20 de julho de 2010


Sempre se renovando, Agatha Christie escreve um livro em que os personagens , como ela mesma diz, são todos muito antipáticos. "Cem gramas de Centeio" (A Pocket Full of Rye), tem logo de saida, três assassinatos em 48 horas e os envolvidos são, realmente, antipáticos.
Dessa vez Miss Marple não é chamada mas, sempre guiada por seu senso de justiça, vai ao local do crime para investigar a morte de uma pobre jovem, orfã, e que durante algum tempo esteve a seu serviço.
A brutalidade do crime mexe com os sentimentos de Miss M. e também com os nossos.
A ambição de uma pessoa não devia envolver uma jovem ingênua e desamparada.
Em dois dos crimes a arma utilizada foi o veneno, a preferida de AC. e além do costumeiro cianureto (toda casa tinha uma reserva desse veneno para matar ninhos de marimbondos, prático, não?), ela introduz um pouco conhecido: a taxina, extraido dos frutos da árvore do teixo, abundante no local (a casa se chama "O Solar do Teixo" ).
Da árvore do teixo (que dura de 1500 a 2000 anos) é extraído um alcalóide (taxina) que é veneno mas também usado como medicamento no combate ao câncer (taxol). Eu mesma já tomei esse remédio (tamoxifen) durante 5 anos, graças a Deus.
Ao regressar a sua casa Miss M. recebe a confirmação das suas deduções que levaram à prisão do culpado.

segunda-feira, 19 de julho de 2010


Miss Marple lamenta sua dificuldade de, às vezes, lembrar-se de um nome ou de um acontecimento. Ela diz, como eu mesma digo tantas vezes: Daqui a pouco eu me lembro, tenho certeza.
Mesmo consciente de suas limitações ela aceita a proposta misteriosa e tem um incentivo financeiro. Mas ela não é seduzida pelo dinheiro, mas o código usado para atraí-la - Nêmesis - é o bastante para ela.
Vencendo as dificuldades ela consegue levar a bom termo sua missão e decide, ao contrário dos conselhos dos advogados, deixar o dinheiro recebido (vinte mil libras) em sua conta-corrente para gastá-los em coisas que ela sempre quis, mas não podia comprar. Ela diz: uma perdiz (são tão caras), vou comê-la inteira.
O que eu faria se recebesse um dinheiro extra, mesmo uma pequena quantia? Não ia gastá-lo em excursão para ver jardins, isso eu garanto.

As primeiras páginas de "Nêmesis" (Nemesis) são de uma delicadeza que nos transporta a um tempo que, mesmo sem tê-lo vivido, temos dele deliciosas recordações.
A rotina diária de Miss Marple, a leitura dos jornais (quando chegam no horário acertado), a procura das notícias (jornais são para isso: notícias), a leitura dos obituários... Minha mãe, ao pegar o jornal, pela manhã, lia primeiro o obituário. Ela queria saber, logo cedo, quem havia morrido.
Miss M. recebe cartas e o abridor de cartas está sempre ao seu lado para ser utilizado, cuidadosamente.
Ao receber um convite de uma firma de advogados de Londres ela não pode fazer idéia do que a espera: uma visita, com tudo pago, aos jardins e mansões notáveis, com o objetivo de procurar, num acontecimento do passado, justiça para os inocentes e castigo para um crime que, ao contrário dos outros, tem como motivo o amor. Amor errado, é claro, amor doentio, não o verdadeiro AMOR.
(continua)

domingo, 18 de julho de 2010


"Os Três Ratos Cegos" (The Three Blind Mice and Other Stories) reúne 13 histórias escritas por Agatha Christie, de 1924 a 1948, e entre elas, a que dá nome ao livro, está a peça de rádio que ela escreveu, em 1951, para atender o pedido da Rainha-Mãe e que se tornou o embrião da peça teatral "A Ratoeira". No teatro, com cenários, figurinos e interpretações soberbas, vem sendo representada desde a estréia e, quem já viu (eu não vi, nem a montagem brasileira) diz que a peça é MARAVILHOSA.
Lendo esse livro não me entusiamei muito, nem na primeira leitura (há tantos anos), nem agora, mas entendo o seu sucesso: os ingleses adoram a realeza e o fato de a peça ter sido escrita para a querida Rainha-Mãe deve pesar nessa longa vida teatral.
Algumas das histórias do livro parecem ser um esboço para futuras utilizações.
Também neste livro está "Testemunha de Acusação" mas dessa história vou falar outro dia.

Agatha Christie escreveu durante 50 anos - de 1920 até os anos 70 e nesse espaço de tempo ela nos falou do que existia na época e das coisas que foram surgindo.
As primeiras impressões digitais, os telefone de linhas compartilhadas, as telefonistas, o telégrafo, o maravilhoso Correio de Sua Magestade (sempre confiável), o ditafone (grande novidade), os fogões elétricos (depois da guerra), as novas roupas para as mulheres que foram quase que forçadas a abandonar os trajes do tempo da era rainha Vitória que morreu em 1901, depois de longo reinado.
Há muito tempo que as mulheres vivem mais que os homens: Elizabeth I reinou 45 anos, Vitória, 63 anos e a atual, Elizabeth II, já está no trono há 57 anos e nem pensa em aposentadoria. Ela foi coroada em 1953 e, dizem, vai sobreviver ao fim do mundo em 2012.
A Rainha-Mãe, Mary, mulher de Jorge VI e mãe de Elizabeth II, também viveu um bocado e morreu, em 2002, com 101 anos.
Foi ela que pediu, em 1951, como presente de aniversário, uma peça radiofônica escrita por Agatha Christie. (continua)

sexta-feira, 16 de julho de 2010


"O Natal de Poirot" (Hercules Poirot's Christmas) foi escrito em 1938, em resposta a uma crítica do cunhado de Agatha Christie que reclamou da falta de sangue nos assassinatos criados por ela. O público gosta de sangue (nossos jornais populares confirmam isso) e, se possível, mais de um crime em cada livro.
O Natal, festa da cristandade que chama os homens de boa vontade para viver a paz na terra, é manchado por um velho mau carater que resolve pregar uma peça - de mau gosto - em seus familiares e os convida a passar o Natal com ele.
O velho mau pensava divertir-se magoando e humilhando seus filhos e noras, mas as coisas não acontecem como ele esperava: um assassino aproveita, também, a data para acabar com a vida dele.
Não é uma história de Natal, AC. apenas faz a ação desenrolar-se nos dias 22 a 28 de dezembro e HP., que visitava um amigo policial, é convidado a participar das investigações.
O crime, bárbaro, está bem de acordo com a vida que a vitima viveu: a violência e o sangue estão presentes . Os versos de Shakespeare (Macbeth) citados no início são muito apropriados.

quarta-feira, 14 de julho de 2010


"O Caso dos Dez Negrinhos" (Ten Little Niggers), foi escrito em 1939 e logo se tornou o livro mais comentado de Agatha Christie. Na época, muita gente deu palpite sobre a obra: o fim devia ser outro, é racista (por falar em negrinhos), etc.
Ora, a autora tem total domínio sobre o que escreve e quem não gosta do final, do desenrolar, do enredo, dos personagens, deve, quem sabe, escrever seus próprios livros.
Quanto aos dez negrinhos: trata-se, apenas, de utilizar uns versos infantis e umas figurinhas decorativas para marcar o andamento da história. Podiam ser dez indiozinhos, dez esquimozinhos, dez anjinhos brancos, qualquer outro elemento.
A história, muito bem engendrada e melhor contada, mostra como dez pessoas comuns são atraidas a uma ilha desabitada atendendo a um convite muito vago.
Por que aceitaram? No fundo todos temos a nostalgia do perigo e da ambição.
Um caso extremo do sentido de fazer justiça ou de realizar um desejo acalentado durante anos: o desejo de matar!
Se os personagens não despertam sentimentos de piedade ou leve simpatia a autora trabalhou para isso.
Não faço reparos ao livro, afinal é apenas, um livro.

terça-feira, 13 de julho de 2010


"M ou N ?" (N or M) é um pequeno livro escrito durante a 2a. guerra mundial e conta as aventuras do casal Tommy e Tuppence, agentes secretos amadores, cheios de vontade de voltar ao trabalho, interrompido com o fim da guerra de 14/18. Eles estão velhos, para os padrões da época , mas não aceitam isso. Ele tem 46 anos, imagine!
Passado em 1941, às vésperas do "Dia D" (6 de junho) o tema são os ingleses simpatizantes e colaboradores do regime nazista da Alemanha - esses traidores recebiam o nome de "5a. coluna", inclusive aqui no Brasil eram assim chamados.
Passados 70 anos os acontecimentos parecem tão distantes e absurdos que só esperamos que nunca voltem a nos assombrar.
Tommy e Tuppence voltaram à ativa e aproveitaram a oportunidade de ajudar seu país. Merecem a aposentadoria.

segunda-feira, 12 de julho de 2010


Aghata Christie, nesse livro, relembra as ceias de Natal do seu tempo de menina: Sopa de ostras (preciso dessa receita), linguado, peru assado, peru cozido e um enorme filé. As sobremesas: torta de frutas, bolo de amêndoas e o tal "Pudim de Passas". Nesse pudim de Natal, feito com dias de antecedência (para ficar no ponto), são adicionados , no momento do cozimento, alguns objetos que ao serem colocados nos pratos são motivo de grande hilariedade: aneis de casamento, aneis de solteirão e solteirona, uma moeda de prata, etc.
A missão de HP é coroada de êxito, ele recupera o precioso rubi que fora roubado de um príncipe estrangeiro, ingênuo e estroina, e desmascara a jovem aventureira.
No final, HP dá uma lição na riquinha que, desprezando sua vida familiar, prefere viver aventuras em Chelsea, bairro boêmio de Londres. Coitadinha, se deu mal.

Agatha Christie também escreveu sobre o Natal. O livro "A Aventura do Pudim de Natal" (The Adventure of the Christmas Pudding), publicado em 1960, contém 6 histórias curtas (com Hercule Poirot e Miss Marple) e é a primeira história que dá nome ao livro.
Hercule Poirot é convidado (intimado) por pessoas do Governo, a passar um Natal no campo inglês para investigar um grave problema de Estado.
Ele não fica entusiasmado com a idéia de passar os feriados do Natal numa mansão inglesa do século XIV mas é convencido pela promessa de aquecimento central e água quente nos quartos.
A proprietária de Kings Lacey é a Sra. Lacey que aceita a presença de HP como um favor a uma querida amiga e, aparentemente, não está a par dos reais motivos da visita dele. Enquanto conversa com seu hóspede a Sra. Lacey embainha panos de prato e fala dos seus problemas com a neta rebelde.
A descrição da Ceia de Natal, com sua culinária, no mínimo curiosa, é uma mostra do humor inglês de AC.
(continua)

sexta-feira, 9 de julho de 2010


Sempre ocupada com seu tricô, Miss Marple observa o mundo a seu redor, tão diferente da sua pequena aldeia de St.Mary Mead. Ela chega a reclamar que alí não acontece nada, é tudo muito igual e parado.
Felizmente, para Miss M. , os acontecimentos se precipitam e ocorrem mortes, aparentemente natural (a primeira), mas muito suspeita para uma veterana conhecedora de crimes e criminosos.
Bisbilhoteira como sempre, ela procura informações e usa subterfúgios ao inquirir o médico local: usa os seus joelhos para, numa consulta, sondá-lo a respeito da vítima. Os joelhos de Miss M. estão sempre "na dela", como pretexto. Como os meus que, doem muito (sempre), mas me permitem usá-los como desculpa para não ir a certos lugares maçantes.
No desenrolar da trama, Miss M. faz amizade com um senhor bem ranzinza e muito rico que, mais tarde, vai proporcionar a ela uma bela e rentável aventura. Gostaria de ver surgir em minha vida um senhor Rafiel!

Miss Marple tem um sobrinho que realmente gosta dela e está sempre disposto a agradar a querida tia Jane. Neste livro, "Mistério no Caribe" (A Caribbean Mystery), escrito em 1964, ela ganha uma viagem até uma das ilhas do Caribe (St. Honório) para passar umas semanas num hotel de sonho, numa ilha de sonho: muito sol, calor agradável, mar azul, praias maravilhosas.
O hotel é chic, os hóspedes são ricos e quase todos de mais idade, pois os jovens estão estudando ou trabalhando e ainda não podem pagar esses luxos.
Miss M. recebe da mulher de seu sobrinho um cheque para comprar roupas "de verão", próprias para aquele clima, mas essas roupas não são para ela. Ela usa, ao jantar, o traje adequado às senhoras inglesas no exterior: renda cinza. Essa é a vantagem de sermos velhos, podemos usar, todos os dias, a mesma roupa que ninguém vai reparar - afinal ninguém repara em mulher velha, somos invisíveis.
A idéia de Agatha Christie sobre o dia-a-dia de uma ilha tropical é muito limitada e ela fica só com o que conhece bem: os hóspedes do hotel.
(continua)