quarta-feira, 30 de junho de 2010


Outro livro curto (173 páginas) e poucos personagens: "Seguindo a Correnteza" (Taken at the Flood) é de 1948 e o tema é a acomodação em que as pessoas vivem na certeza de que suas vidas estão estabilizadas e basta seguir a correnteza.
Mas, na verdade , não estão. Um acontecimento muda tudo de um dia para outro e é preciso encarar a realidade. A vida mansa era precária e agora todos estão sem saber o que fazer para pagar suas contas. Não que eles fossem parasitas, eles tinham suas carreiras, mas foram acostumados a contar com "algo mais" que, de repente, acabou.
As três mortes do livro são, conforme dedução e explicação de H.P., um acidente, um suicídio e um assassinato e, até chegar a essa conclusão ele deixa a polícia tonta com suas idas e vindas.
A.C. aproveitava tudo o que acontecia ao seu redor e, neste caso, são as confusões que os bombardeios que atingiram Londres, na 2a. guerra, causaram na vida da cidade e das pessoas.
Como todos sabem, uma conduta heróica na guerra nem sempre indica um correto cidadão em tempos de paz.

terça-feira, 29 de junho de 2010


Um dos livros que AC escreveu aproveitando sua experiência de vida no Iraque , em 1938, é "Encontro com a Morte" (Appointment with Death) e nele encontramos uma personagem odiosa, uma velha sádica, o tipo de pessoa que está pedindo para ser assassinada.
O crime acontece numa excursão turística à antiga cidade de Petra, na Jordânia e os envolvidos, como sempre, são poucos: cinco familiares e cinco estranhos.
Hercule Poirot é convidado a conduzir as investigações e concentra-se no estudo psicológico da vítima. Hoje, em qualquer série policial de TV, o primeiro passo é a vitimologia.
A profissão de uma pessoa é capaz de conduzir a um tipo de comportamento ou o comportamento é que conduz alguém a determinada profissão? Quem escolhe viver perigosamente não pode reclamar do que lhe acontece.
No fim, AC tem um momento romântico : quatro casamentos felizes..... e um funeral para equilibrar.

segunda-feira, 28 de junho de 2010


A julgar pela informação do meu exemplar, AC estava com 82 anos quando escreveu "Os Elefantes não Esquecem" (Elephantes can Remember), em 1972. O enredo trata de gêmeas, militares e perucas e os personagens têm um passado nas colônias inglesas pelo mundo afora (no caso, a Malásia).
A Sra. Ariadne Oliver, nas primeiras páginas, parece a própria AC, angustiada por ter de comparecer a um almoço em sua homenagem. Tímida e avessa a comemorações ela hesita na hora de escolher o que vestir e qual o chapéu usar. Naquele tempo, ficamos sabendo, havia chapéus destinados a casamentos pois era inconcebível aparecer num casamento de cabeça descoberta. Hoje, por aqui, os trajes usados nos casamentos são, quase, inimaginaveis.
AO e HP são novamente parceiros neste livro e mergulham numa investigação de um suposto crime acontecido há 12 anos.
E descobrem o que aconteceu e o que estava acontecendo. Mais uma vez, há dinheiro em jogo.

sábado, 26 de junho de 2010


Um crime, ou melhor, dois crimes cometidos na frente de muitas pessoas, num restaurante de luxo, e ninguem vê nada. "Um Brinde de Cianureto" (Croocked Cynamide), escrito em 1944, traz de volta um personagem de outros livros de AC (Coronel Race), o sucessor, na Scotland Yard, do Superintendente Battle (Inspetor-chefe Kemp) e um jovem misterioso cuja identidade só é revelada no final.
Ao apresentar quatro das cinco mulheres do livro AC, em poucos parágrafos, nos dá um retrato de corpo inteiro de cada uma delas e todas, com exceção da morta, claro, pode ter sido a assassina - não importa qual o motivo.
Passe de mágica ou não, AC sempre tem uma resposta simples e lógica que nos deixa desconcertados por não ter deduzido como aconteceu o crime.
Anos e depois, em outro livro, ela vai usar o mesmo recurso e também na frente de todo mundo.
Quanto ao motivo do crime, mais uma vez, é o mais elementar: dinheiro.

sexta-feira, 25 de junho de 2010


Agatha Christie dizia gostar desse livro "A Casa Torta" (Croocked House), escrito em 1949 e apresentando um criminoso e um motivo para o crime bem diferente de todos os que ela já havia escrito.
Na casa torta vivia uma família comum (só que com muito dinheiro) e seus moradores são os personagens do livro sendo que um deles é o assassino.
O patriarca (dominador) tem 85 anos, sua segunda mulher (5o anos mais nova), seus dois filhos (acomodados), suas noras (revoltadas), sua cunhada dedicada, uma velha empregada, os três netos ansiosos e um jovem professor das crianças (muito fraco para ter ido à guerra) - todos vivendo rodeados de muito amor, muito dinheiro e nenhuma liberdade para tocar suas próprias vidas.
O dinheiro dá às pessoas que o tem o poder sobre os demais, compra submissão mas nem sempre compra o amor.
A polícia não consegue resolver o crime que não é cometido por quem, obviamente, devia tê-lo feito: a esposa mais nova. É preciso que um dos membros da família tome a inicativa de esclarecer tudo para consertar a casa torta.

quinta-feira, 24 de junho de 2010


Hercule Poirot nunca havia lido os clássicos, não conhecia a mitologia grega apesar de ter o nome de um semi-deus grego elevado à morada dos deuses (o Olimpo).
Desafiado e estando perto da aposentadoria resolve finalizar sua carreira resolvendo casos que lembrassem, simbolicamente, os doze trabalhos do Hercules grego.
"Os Trabalhos de Hercules" (The Labors of Hercules) contem 12 histórias curtas, escritas não ao mesmo tempo (de 1939 a 1947) e editadas não sei quando.
São todas muito pertinentes e a analogia está bem feita. A primeira história (O Leão da Neméia) é tão delicada e sua personagem - uma dama de companhia velhusca e meio tola - que conquistou minha simpatia desde a primeira vez que li o livro.
Conheço tantas Miss Carnaby, hoje e aqui perto de mim, que seu drama me deixa emocionada.
Pobres damas de companhia, incompetentes e sem perspectivas de um futuro seguro quando não puderem mais trabalhar. Mas também conheço senhoras, ricas e apaixonadas por seus cachorrinhos de estimação sempre a lhes dar despesas.
Felizmente, essas senhoras têm um olhar de compaixão para suas empregadas quando elas ficam inúteis e gestos de solidariedade para com essas pobres criaturas. HP é vitorioso em todos os trabalhos propostos mas, é claro, não é dessa vez que ele vai se aposentar.

quarta-feira, 23 de junho de 2010


A hora zero é o momento em que acontece o principal e há muito esperado: um crime é cometido! Mas até chegar a essa hora são muitos os procedimentos, preparativos, planos, tudo para se chegar à hora zero.
Escrito em 1944, "Hora Zero" (Towards Zero) é um livro pequeno (158 páginas), com apenas onze personagens, mas tem tudo para nos encantar com a trama bem urdida e amarradinha.
O detetive é da Scotland Yard, o Superintendente Battle, que mesmo de férias resolve o caso quase que com um "pé nas costas".
O livro é o mundo de AC: mansão isolada, criadagem fiel (destaque para a criada de quarto), hóspedes costumeiros (como as pessoas se hospedam na casa dos outros, parece que nem ficam em suas próprias casas), diálogos rápidos, concisos e reveladores.
AC não era de muitas descrições mas, em poucas palavras, traça retratos perfeitos e seus diálogos são um ponto forte.
O criminoso leva meses preparando um plano perfeito (de abril até setembro) para a execução de seu crime mas não conta com o imponderável: é por isso que não há crime perfeito.

terça-feira, 22 de junho de 2010


O bridge é um jogo de cartas que fascina os ingleses de tal forma que eles, bem ou mal, jogam o ano inteiro. Este livro "Cartas na Mesa" (Cards on the Table), escrito em 1936, é um dos meus preferidos mesmo não entendendo nada de bridge.
Acho o livro delicioso em virtude da personagem que AC nele apresenta: Mrs. Ariadne Oliver, escritora de livros policiais lembra, e muito, a própria Agatha Christie.
AC criou um detetive finlandês, velho, misógino, vegetariano e ela não consegue ficar livre dele - seus leitores o adoram.
A questão da idade é muito estranha para nós, hoje, acostumados a lidar com uma média de idade bem alta. Naquele tempo, alguém com 60 anos já era considerado gagá.
Envolvida numa cena de crime, a escritora AO tem umas tiradas muito boas: defende a ida de uma mulher para a chefia da Scotland Yard, serve café preto com torradas quentes com manteiga (nada de chá), tem sempre um monte de idéias para explicar os motivos do crime (cada qual mais esquisita) e suas considerações sobre a dura vida de uma escritora de livros policiais é como um desabafo da autora presa a sua obra.
HP dá as cartas e nos surpreende, como sempre.

segunda-feira, 21 de junho de 2010


Os livros de Agatha Christie foram publicados e republicados várias vezes o que torna dificil, para mim, identificar com certeza as datas em que foram escritos.
Os primeiros, conforme consta de sua autobiografia, datam de 1920 a 1930 (16 livros). Depois, não sei ao certo.
De 1930 a 1940 contei 20 livros, de 1941 a 1950 mais 15 e de 1951/60 mais 12 .
Nos últimos anos de sua criação (até 1976) contei 13 livros.
AC escreveu também dois livros com outros autores famosos na época: O Cadáver atrás do Biombo (contos) e A Morte do Almirante (novela).
Dizem que ela deixou obras inéditas, mas não há confirmação disso.
As peças teatrais de AC são um capítulo a parte: as mais conhecidas são Testemunha de Acusação e A Ratoeira (essa em cartaz durante muitos anos). Mas ela escreveu muitas outras peças que foram encenadas na época, algumas com sucesso, outras não.
Alguns dos livros publicados reuniam contos e histórias curtas já publicados em revistas ou jornais. São mais ou menos doze livros de contos e alguns contém uma narrativa que, mais tarde, seria desenvolvida como um romance policial.

sábado, 19 de junho de 2010


"Uma Dose Mortal" (One.Two Buckle My Shoe) foi escrito em 1940/41, no tempo da 2a. Guerra Mundial e quando o comunismo tinha muitos simpatizantes na Inglaterra. Os jovens, seduzidos por essa ideologia, queriam mudar o país e sua política econômica. Mas os políticos conservadores tinham outra idéia e não aceitavam mudanças. Nesse livro, a princípio, somos levados a ver AC enveredando pelos caminhos da política e das finanças para descobrir que não é bem assim.
Políticos e homens públicos também têm vida particular e, para proteger seus deslizes, não hesitam diante de nada. Poder e dinheiro são mais importantes que vidas humanas.
Mas esse não é o pensamento de HP., para ele crime é crime e não pode ficar impune.
A época do livro nos recorda o suplício que era uma ida ao dentista (hoje uma coisa tão prazeirosa) e, lendo, parece-me ouvir o barulho horroroso do motor em meus dentes.
A morte de um simples dentista, de uma senhora pouco inteligente e até de um homem não muito simpático, mexe com os padrões de conduta de HP e ele, mais uma vez, nos mostra como ele é incorruptível. Se todos fossem assim!

sexta-feira, 18 de junho de 2010


"A Casa do Penhasco" (Peril at end House), escrito em 1932, é passado num verão em Saint Loo, uma cidade balneária na costa da Cornualha, local escolhido por Hercule Poirot para passar suas férias.
Logo ele é enredado nas artimanhas de uma jovem bonita, inteligente , ambiciosa e sem escrúpulos, empenhada em herdar uma grande fortuna a que não tem direito.
Os jovens pensam que sabem tudo e que os velhos (HP. está velho!) podem ser manobrados.
Como sempre AC usa poucos personagens, apenas nove e mais HP , o Cap. Hastings e o Inspetor Japp. Ela não tem muita pena do fiel escudeiro de HP: Hastings é, mais uma vez, apresentado como uma pessoa pouco perspicaz, sempre fazendo juízos temerários e sempre errando. Em certo momento HP refere-se ao pobre capitão como romântico e de intelecto ligeiramente medíocre. Mas Hastings não se abala, ele bem sabe suas limitações. E HP vaidoso e confiante nos seus poderes, faz justiça aos mortos e condena a criminosa.

quinta-feira, 17 de junho de 2010


Agatha Christie não esperava que Miss Marple fosse fazer tanto sucesso, mas ela rivaliza em popularidade com Hercule Poirot, com a vantagem de fazer sonhar suas leitoras mais velhas: Quem não quer ser Miss M.?
Depois do primeiro livro (Assassinato na Casa do Pastor) AC. dedicou a ela mais doze livros e um desses é o do "clube das 3as. feiras" : "Os Treze Problemas" (The Thirteen Problems), escrito entre 1928/1930.
São 13 histórias curtas com Miss M. dando show: ela sempre descobre e resolve os mistérios apresentados pelos seus convidaddos das 3as. feiras: Sir Henry Clithering (ex-diretor da Scottland Yard), os sobrinhos Raymond West e Joyce, Dr.Pender (um clérigo), Jane Helier (uma atriz) e outros.
Se prestarmos bastante atenção veremos as pistas que AC nos indica mas, o mais importante, é ser como Miss M. : não acreditar em ninguém, pensar sempre o pior das pessoas e, é claro, desvendar os mistérios não resolvidos, até então.
Um dos problemas é apresentado por uma atriz de teatro, linda, loura e um tanto curta de entendimento (loura burra? quase).

quarta-feira, 16 de junho de 2010


Em 1927 surgiu esse livro , "Os Quatro Grandes" (The Big Four), onde o talento de Hercule Poirot é explorado ao máximo. Duelando com quatro cérebros criminosos (que queriam dominar o mundo )HP aceita o combate e, em circunstâncias , eu diria mirabolantes, destrói seus inimigos.
A destacar: os palpites absurdos do parceiro Cap. Hastings.
Na época em que li esse livro pela primeira vez não gostei muito e, hoje, relendo-o, gosto ainda menos. Muita correria, muitas coisas inaceitáveis mas, em respeito à autora: na época isso agradava seus leitores.
Mas os melhores livros de AC estavam por vir.

terça-feira, 15 de junho de 2010


Ao escrever doze histórias curtas, publicadas em 1933, Agatha Christie apresentava um personagem diferente: "O Detetive Parker Pyne" (Parker Pyne Investigates) um homem especializado em transformar vidas infelizes em felizes.
Seu anúncio nos jornais dizia: "Confidencial - Você é feliz? Se não for, consulte o Sr. Parker Pyne. Rua Richmond 17."
Não se trata de histórias de crimes, mas da busca da felicidade: a esposa de meia idade trocada por uma jovem mais nova; um velho soldado com nostalgia da vida de perigos; um marido mais velho que teme ser trocado por um jovem; o jovem, de vida monótona, que sonha com aventuras; a milionária entediada; uma aventura na histórica cidade dos nabateus (Petra).......
Os serviços do Sr. PP não são baratos (esse tipo de coisa nunca é) ,mas as pessoas conseguiam o que pediam. Lembra um pouco aquela série de TV a Ilha da Fantasia. Quem sabe AC falou primeiro?

segunda-feira, 14 de junho de 2010


Sittaford é um lugarejo remoto no sul da Ingleterra (Devon), perto de Dartmoor, um lugar muito frio e com muita neve.
"O Mistério de Sittaford" (The Sittaford Mystery) , escrito em 1931, apresenta, além da neve abundante, duas mulheres misteriosas: ricas, chiques, que alugam uma casa (Sittaford) nos meses de inverno para sentir o frio na Inglaterra já que vieram da Africa do Sul. Mas a Africa do Sul tem frio também, no inverno que ocorre nos meses de junho/julho.
O enredo é intrincado e instigante, seus personagens são pessoas comuns da localidade mas, de alguma maneira, envolvidos no crime.
Há uma jovem corajosa e decidida a descobrir a verdade - ela é uma "mulher forte", tão a gosto de AC. que sempre apresenta esse tipo de mulher apaixonada por "homens fracos". Algo pessoal?
A moça mandona é inteligente e desvenda o crime mas continua com o noivo fraco. Fazer o quê?

domingo, 13 de junho de 2010

Miss Marple não estava entre os convidados para o homicídio em Little Paddocks mas, por acaso, ela estava hospedada no hotel onde a vítima trabalhava e logo é envolvida, por sua livre vontade, nas investigações.
AC. , com poucas palavras, faz um retrato dos personagens: a dona da casa (que usava um colar de pérolas, de 4 voltas, o dia inteiro), sua amiga dos tempos de colégio, uma empregada refugiada de guerra, um coronel reformado e sua mulher loura e burra, um casal de sobrinhos, uma pobre viúva de guerra, mais cinco ou seis vizinhos convidados para o evento.
Um dos vizinhos é um pretenso escritor - escrever livros não é trabalho de verdade, diz AC.
No fim do livro há uma delícia de comentário a respeito das relações familiares: o filho, falando sobre a estada de sua mãe num local de veraneio, diz que "ela adora aquilo lá" embora ele, como a maioria dos filhos, não tenha a menor idéia a respeito, mas preferia acreditar que tudo ia bem com os pais - "esses entes tão queridos e, frequentemente, tão irritantes".
Será que é assim que meus filhos me veem?

sábado, 12 de junho de 2010


Acabada a 2a. Guerra Mundial a Inglaterra, como toda a Europa, passava por um período de dificuldades para conseguir alimentos e outros bens de consumo. Havia cartões de racionamento inclusive pra roupas. Este livro, "Convite para um Homicídio" (A Murder is Announced) é de 1950 e o rei era Jorge VI.
Ambientado em um vilarejo chamado Chipping Cleghorn o tal convite para um homicídio é publicado no jornal local (A Gazette), semanário importante para todos os moradores da vila.
Na Inglaterra é comum as casas serem conhecidas por nomes e, neste livro, aparecem muitos: Little Paddocks (onde se passa a maior parte da ação), Dayas Hall, Boulders, Larches, Simla Lodge, Croft End - um toque diferente para nós.
O tema do livro é a visão que uma pessoa tem das injustiças da vida, do que ela pensa que deveria ter direito e que lhe foi negado. Ela pensa que a vida lhe deve alguma coisa e não hesita em conseguir o que acha de seu direito, mesmo que isso custe a vida de três pessoas.
Os personagens envolvidos são poucos, não chega a 15 pessoas, incluindo os policiais.
Amanhã vamos vê-los.

sexta-feira, 11 de junho de 2010


"Cipreste Triste" (Sad Cypress), escrito em 1939, é um livro triste. Uma jovem abriga em seu coração o desejo de matar, mas não mata e passa o livro todo achando-se culpada do "crime de intenção". A moral inglesa daquele tempo, resíduo da época vitoriana, obriga uma rica senhora a esconder sua filha ilegítima dando a menina para viver como filha de uma antiga empregada e seu marido ignorante e intolerante.
Amor materno aí significa livrar a menina do estigma de "bastarda".
HP é convocado por um homem que, apaixonado pela suposta criminosa, exige que ele faça "de tudo" pra livrar sua amada, mesmo que ela seja culpada. Naquele tempo a pena era a forca!
Desde o início AC nos fornece pistas que nós (pelo menos eu), descuidadamente, ignoramos.
Mas não HP, ele vai atrás de qualquer migalha.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ontem, só depois que escrevi sobre O Mistério do Trem Azul me veio à lembrança que esse enredo já havia sido abordado por AC. , como história curta, nos Primeiros Casos de Poirot. AC durante toda a sua vida escrevia sem cessar e algumas de suas histórias eram como que rascunhos que ela, mais tarde, desenvolvia como um romance policial.
O Expresso de Plymouth (mais um trem para a coleção) é um rascunho do livro sobre o Trem Azul: a herdeira assassinada, as joias roubadas, a criada, um suposto amante, o marido estroina.
Outros contos, que me lembro e que deram origem a livros maiores são: Iris Amarelo (Um Brinde de Cianureto) e o Triangulo de Rodes (Morte na Praia).
Parece até coisa de cozinheira que faz um rascunho : bacalhau, batatas, azeite e pronto ou um bacalhau mais sofisticado que leva bacalhau, azeite, manteiga, leite, alho, cebola, coentro, noz moscada, cenoura, creme de leite, parmezão, pimenta , farinha de trigo, molho inglês e até biscoitos cream-craker : bacalhau espiritual trabalhoso e demorado.

quarta-feira, 9 de junho de 2010


Agatha Christie diz, em sua autobiografia, que o livro que ela menos gostava era "O Mistério do Trem Azul" (The Mistery og the Blue Train). Ela devia ter suas razões e eu acho que o número maior de personagens (11 mulheres e 10 homens) - que resultou em maior número de páginas - deve ter sido um deles. Realmente, há excesso de personagens secundários que podem ser descartados.
Mas eu gosto do livro, por nostalgia. Que vontade de ter viajado no Trem Azul (ah, a Riviera Francesa), de receber uma herança inesperada (mas bem merecida), de entrar numa loja de alta costura e comprar vestidos maravilhosos: o tailleur gris clair, o robe de soirée "soupir d´automn", o conjunto rosa de crepe de Chine. Um vestido de noite rosa meio lilás - cada vez que leio esse livro sonho com esse vestido.
AC faz acontecerem crimes nos trens (como ela gostava de trens! Igual a mim, tenho paixão por viajar de trem). Orient Express, Expresso Inglês, Trem Azul e outros: quase todos os personagens de AC, em algum momento, viajam de trem, principalmente nos dias de tarifas mais baratas.
HP. tem muito trabalho para deslindar o crime, mas não falha. E AC nos dá uma lição: filhinhas de papai rico, acostumadas a terem tudo, um dia podem se dar mal. Agora está na moda festas infantis custando até cem mil reais. Como será a festa de 15 anos?

terça-feira, 8 de junho de 2010


Quando foi publicado, em 1926, o sexto livro de Agatha Christie - "O Assassinato de Roger Ackroyd" (The Murder of Roger Ackroyd), logo se transformou num grande sucesso. É um livro muito bem escrito, engenhoso e diferente. AC foi desafiada a escrever um policial em que o criminoso fosse o narrador, mas de tal maneira o enredo é conduzido que só seria possível ser descoberto isso no final do livro.
Ao longo da minha vida de devoradora de livros eu aprendi a descobrir tudo até nas primeiras páginas mas, na época, o final foi realmente uma surpresa.
HP está aposentado de suas investigações e vai morar na pacata vila de King´Abott mas logo vai voltar à ativa: uma jovem desesperada pede seu auxílio. Ele tem as mulheres em alta conta e respeita-as. HP acha-as maravilhosas e, ele diz: "As mulheres inventam coisas ao acaso e, por milagre, acertam. Elas notam inconscientemente milhares de pequenos detalhes até sem perceber, e seu subconsciente vai adicionando essas pequenas coisas e o resultado é o que chamamos de intuição feminina."
O desempenho de HP é primoroso. São tantas as demonstrações do intelecto do pequeno detetive que só podemos ficar de boca aberta e dizer: BRAVO!

segunda-feira, 7 de junho de 2010


"Um acidente e Outras Histórias" (The Accident and other Stories) é mais um livro de contos de Agatha Christie, escrito entre os anos 1923/1927 e publicados não sei quando.
São 15 histórias curtas, quase um esboço a ser desenvolvido num livro futuro como, efetivamente, acontece com a história "Iris Amarelo" que será, mais tarde, o livro "Um Brinde de Cianureto" com quase os mesmos personagens.
Tambem há nesse livro, um conto com Miss Marple e o Detetive Parker Pine. Os demais (12), mostram o estilo de AC. : em poucas linhas apresenta os personagens e a trama desenvolvida. Rápido e rasteiro.
A destacar: uma casinha no campo comprada por 2.000 libras, uma mulher tola e com dinheiro vítima ideal para um homem mau e uma mulher inteligente e esperta que leva a melhor sobre um detetive presunçoso.

domingo, 6 de junho de 2010


"Assassinato na Casa do Pastor" (Murder at the Vicarage) foi escrito em 1930 e marca o início da carreira de Miss Marple, uma solteirona de idade indeterminada e com muito tempo disponível para observar tudo o que se passa ao seu redor. A essa "detetive amadora" Agatha Christie iria dedicar 13 livros.
O cenário é a pacata aldeia de St.Mary Mead onde Miss M. sempre morou e os personagens são, é claro, o Pastor (o dono da casa), a mulher dele, um sobrinho jovem, o magistrado local (pessoa nem um pouco apreciada por todos), sua mulher (bem mais nova que ele), sua filha, um pintor de retratos, um ajudante do Pastor, um arqueólogo escavador de túmulos e sua secretária, o médico local, as mulheres faladeiras, empregados diversos e uma mulher misteriosa que desperta a curiosidade de todos. Em rápida aparição ficamos conhecendo o sobrinho de Miss M. , um romancista de sucesso.
A vítima é o coronel que cuida da lei na aldeia, um homem justo que espera ser tratado com justiça. Mas o Pastor discorda: "Se ter sido justo for a minha desculpa ficaria triste pois poderia ser que somente justiça fosse aplicada a mim. E eu prefiro a misericórdia."
Os criminosos são como um livro aberto para Miss M., seu poder de observação e as conclusões a que chega, são sempre acertadas. Ela conhece a natureza humana e sabe que as pessoas não mudam.
Como retrato da época temos a maneira de vestir das mulheres: vestidos curtos e, não havendo necessidade de bolsa, elas apenas usam um lencinho na barra da meia.

sábado, 5 de junho de 2010


Agatha Christie criou o personagem Hercule Poirot em 1920 e ele já era um velho, aposentado da força policial da Bélgica. Em 1955, HP continua o mesmo e suas faculdades dedutivas cada vez mais apuradas.
Nesse livro, "Morte na Rua Hickory" (Hickory, Dickory, Dock), encontramos nosso heroi em seu escritório, em Londres, tendo por secretária uma Srta. Felicity Lemon, que não comete erros, não fica cansada, aborrecida, doente - a secretária perfeita, bem a gosto do seu patrão.
Quando Miss Lemon erra uma carta, HP estremece e desconfia que algo grave está acontecendo, o que realmente é verdade.
Para ajudar sua secretária e a irmã dela, administradora de uma pensão de estudantes, HP vai envolver-se em uma trama com jovens, ingleses e de outras nacionalidades, e desbaratar uma rede criminosa de roubos e drogas.
As três mortes de ocupantes da casa são artimanhas de um cérebro privilegiado e totalmente voltado para o mal.
Uma segunda chance, tão defendida por alguns, o uso de leniência a quem não merece, causa a morte dessas três pessoas. Sentimentalismo, às vezes, dá nisso.

sexta-feira, 4 de junho de 2010


Agatha Christie gostava muito do personagem que criou, em 1930, para o livro "O Misterioso Sr. Quin" (The Misterious Mr. Quin). Nele são contadas 12 histórias em que Mr. Quin resolve problemas aparentemente insolúveis e, com isso, muda a vida das pessoas. Ele é o agente catalisador que aparece e desaparece e sua presença afeta os outros à sua volta.
Um senhor idoso, um tipo de bon vivant, homem culto, rico, sempre frequentando as altas rodas é auxiliar do misterioso Mr. Quin. Mr. Satterthewaite está sempre viajando para os lugares da moda e, quando ele aparece, já se sabe que a comida daquela casa é boa ou, então, um drama está para acontecer.
Embora viajando muito Mr.Satterthwaite queria mesmo era ir para casa. Ele dizia que quando se passa dos 6o anos, nossa casa é o melhor lugar.
O mundo de AC, nos anos 30, é fascinante: As pessoas viajavam com criado de quarto para desfazer as malas e ajudá-las "a se trocar", os automóveis enguiçavam perto de casas onde as pessoas eram acolhidas.
Dos 12 contos o que mais gosto é "A Paixão do Crupiê". É um drama que acontece a todo momento, em todas as épocas: a volta por cima.

quinta-feira, 3 de junho de 2010


"Assassinato no Campo de Golfe" (Murder in the Links) foi o terceiro livro escrito por Agatha Christie, em 1923. AC era iniciante, mas o livro é bem escrito e com uma trama bem intrincada e cheia de reviravoltas. O Capitão Hastings, sempre ao lado de Hercule Poirot, revela-se um profundo admirador dos dotes do amigo detetive. Ele está trabalhando num Ministério qualquer e tem bastante tempo livre (ah! funcionário público) para acompanhar HP em seus casos.
Chamado por carta, HP vai à França e lá encontra o seu cliente morto, assassinado.
Alem da viúva, do filho do morto e do secretário há, no enredo, duas senhoras (mãe e filha) muito misteriosas. Mais misteriosa é uma jovem com quem Hastings trava conhecimento, no trem, e logo fica "apaixonado", embora reconheça que ela não é da mesma "classe social" que ele.
Hastings é antiquado, preconceituoso, crédulo e bobo.
Os policiais franceses conhecem HP e pedem sua "colaboração", mas um agente da Sureté de Paris, jovem e cheio de ardis, faz pouco de HP a quem ele chama logo de "velho" e obsoleto.
Mas HP não liga, ele diz que o verdadeiro trabalho de dedução é feito no interior, com as pequeninas células cinzentas do seu cérebro.
Desprezando as típicas "pistas" HP desafia seu colega francês (aposta 500 francos) e, é claro, resolve o caso. Cabeça é mais importante que músculos, não é mesmo?

quarta-feira, 2 de junho de 2010


Os editores de Agatha Christie reuniram, creio que em 1974, quinze histórias curtas, escritas de 1926 a 1934 e publicaram o livro "A Mina de Ouro" (The Golden Ball and others Stories). São contos que abordam, até com bom humor, as agruras de jovens sem dinheiro, desempregados e que precisam fazer de tudo para obter meios de sobrevivência.
Algumas histórias falam de fatos sobrenaturais, casas mal assombradas, possessão e outros que tais. Não gosto desse tipo de histórias e, para mim, são dispensáveis.
Mas há dois contos comoventes: o primeiro, quase um conto de fadas - viúva e dois filhos adultos passando necessidade com a perda de status (tipo pobreza envergonhada), são socorridos por um excêntrico milionário que deseja se redimir de uma vida até então egoista. Happy end.
O segundo caso é muito delicado - jovem (21 anos) pobre, desempregada, passa até fome porque não quer se separar de seu cachorro velho e rabugento. Como nunca tive cachorro, gato, passarinho.....não entendo bem esse apego tão doloroso. Mas a jovem é "libertada" pelo que, parece ser, o suicídio do cão. Será que cachorro comete suicídio? Tive essa impressão.
Mas a história é bonita, comovente (quase chorei) e sentimental....sentimental demais......

terça-feira, 1 de junho de 2010


No segundo livro de Agatha Christie, escrito em 1923, "O Inimigo Secreto" (The Secret Adversary), ela nos apresenta dois novos personagens: um rapaz e uma moça, jovens, desempregados e com muito espírito aventureiro. Desmobilizados com o fim da guerra, eles procuram, em 1919, um modo de conseguir algum dinheiro honestamente. E aí esbarram em "documentos secretos".
Relendo a obra de AC, escrita há tantos anos, sinto a nostalgia dos anos 20/30 do século XX. Alguns desses livros são ingênuos (aos meus olhos céticos de hoje), são fantasiosos, mirabolantes. Mas os leitores de AC gostavam, como hoje muitos gostam de 007, Indiana Jones e Piratas do Caribe.
Outras pessoas preferem ler os clássicos e torcem o nariz para AC. Será que lêem, constantemente, D.Quixote, os sete volumes de Proust, o Ulisses de Joyce? Têm esses livros na sua cabeceira? Não se pode ler, só, os clássicos e as aventuras de Tommy e Tuppence são ingênuas (hoje), mas são divertidas.
Na apresentação do livro há uma advertência : "Pra todos aqueles que levam vidas monótonas, na esperança de que possam experimentar em segunda mão os perigos da aventura."