sábado, 30 de outubro de 2010

Agatha Christie, como eu, amava os trens e, em seus livros, percebemos o quanto ela gostava deles. Um dos mais famosos de seus livros é passado no trem de luxo - Orient Express - que ligava, naquele tempo, Londres/Paris indo até Constantinopla. Hoje, parece-me, diminuiu esse percurso .
Em 1988 tirei uma foto na plataforma da Victoria Station tendo, ao fundo, os vagões desse trem lendário. Viajar no Orient Express é, até hoje, um dos meus sonhos de consumo .
Também no trem que liga Paris à Riviera Francesa - o Trem Azul - acontece um crime. A.C. diz, em sua auto-biografia, que não gostava desse livro, mas eu gosto. Meio irreal, mas nos faz sonhar com essa história de mulher pobre, não muito jovem, que encontra o amor já no "outono da vida". Muito romântico. Viajar de trem é romântico.
Os trens diários que ligam cidades inglesas também são cenários para A.C. nos fazer viajar neles. Amanhã eu continuo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quando começo a ler qualquer livro, procuro conhecer onde e quando acontece a ação. Como leio muito, vários autores, de vários paises, preciso situar-me no tempo e no espaço.
Antes de mais nada é preciso saber que Agatha Christie era inglesa, escreveu de 1930 até mais ou menos 1970, e dos seus muitos livros quase 80% (incluindo os contos) 70 são passados na Inglaterra e 12 em outros paises. (Essa pesquisa não é muito garantida).
Esses livros estão distantes de nós, no tempo, em até 90 anos, e precisam ser lidos levando-se em conta esses fatores.
Os costumes, os hábitos ingleses, mesmo nos dias de hoje, são muitas vezes estranhos, imagine os costumes daquela época.
As casas têm nome, eles comem rins de cordeiro no café da manhã, tomam chá a toda hora, jogam bridge como se fosse uma devoção, dirigem pelo lado direito da rua e o dinheiro... Ah, o dinheiro de antes: soberanos, coroas, libra esterlina, guinéus, shillings, pence - ainda bem que hoje temos a libra dividida em 100 pence.
Naqueles tempos todo mundo fumava e era de bom tom ter cigarros em casa para oferecer às visitas; os ricos viajavam sempre com uma criada de quarto ou um valete - para ajudá-los a se vestir e desvestir; os jardineiros eram essenciais e não podiam faltar nas casas; usava-se tinteiro, pena e mata borrão e sempre havia na casa muitos selos do Correio.
Mas um hábito salutar e muito querido para mim são as viagens de trem. Como os ingleses viajavam de trem, chega a dar inveja. A.C. adorava andar de trem e seus personagens estavam sempre a bordo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os livros de Agatha Christie não são muito grandes e o número de páginas quase não excede 300. Ela dizia que 60 mil ou 70 mil palavras era um bom tamanho.
Há, também, os contos - histórias curtas e aí A.C. pode ser até considerada uma pioneira do Twitter. Em poucas palavras ela apresenta um personagem e faz dele uma presença marcante.
Por isso os livros de A.C. são fáceis de ler e fazem sucesso até hoje. Não são necessárias páginas e páginas, palavras e palavras, para se contar uma boa história policial.
Hoje os livros policiais tem mais de 500 páginas e algumas pessoas podem ficar "perdidas" lá pelo meio da trama. Minha mãe que até aos 90 anos era uma leitora voraz, lia tudo na diagonal. Ela dizia que só lia o "essencial".
A.C. não é Marcel Proust, Miguel de Cervantes, James Joyce, Gabriel Garcia Marques. Longe disso. Mas seus livros estão vivos até hoje, suas histórias são bem escritas e podemos ter o mesmo prazer hoje como na primeira leitura.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quando se fala de livros policiais é comum apontar o mordomo como o óbvio criminoso. Nos livros de Agatha Christie isso não é verdade, pois seus mordomos, figuras obrigatórias nas mansões onde os crimes são cometidos, na maior parte das vezes, são muito simpáticos, leais, dedicados aos seus patrões e... inocentes.
Alguns podem até ter uma ficha criminal, mas nada relacionada com o crime ali acontecido.
Nos ambientes formais, cenários dos livros de A.C., a presença de um mordomo era normal assim como um certo número de empregados domésticos. Eram outros tempos e todos tinham cozinheiras, ajudantes de cozinha, criadas de sala, criadas de quarto, valetes, babás (nurses), governantas, jardineiros, motoristas, secretários.
Hoje esse número de serviçais está muito diminuído mas, no mundo de A.C., eles eram essenciais.
Os mordomos têm nome e, aficionados que somos, sabemos esses nomes: Tredwell , o pomposo mordomo de Chimneys; Tressilian, há quarenta anos na casa (O Natal de Poirot); Lorrimer , de Um Corpo na Biblioteca; Lanscombe, cambaleante em Depois do Funeral; Alton, jovem alto, louro e quase um deus grego, na casa de Lord Edgware; Ellis, que some de cena em Tragédia em Três Atos; Gurgeon, fiel e dedicado à Mansão Hollow.
Esses são alguns deles e, é claro, não é possivel esquecer de George, o prestimoso mordomo de Hercule Poirot e que aparece em várias de suas aventuras.

sábado, 16 de outubro de 2010

No dia 12 de outubro terminei a releitura dos livros de Agatha Christie. Foram 76 novelas e contos policiais e duas peças de teatro. Não sei se me faltou algum, talvez uns livros de contos que não encontrei à venda na época que adquiri os demais.
As pequenas resenhas que fiz não esgotam o assunto A.C. para mim. Há muito ainda para relembrar, muito embora algumas pessoas (até um querido amigo meu) não considere A.C. uma escritora de verdade e que não merece tanta atenção assim. Ela pode não ter sido digna de receber um prêmio Nobel, mas a Academia sueca não premia autores que ganham muito dinheiro com seus livrinhos e tenham muitos leitores em todo o mundo. Para os donos do Nobel isso é um defeito grave, bom é escritor que ninguem lê.
Mas eu continuo firme na minha admiração por A.C., sou sua cúmplice nas tramas (ingênuas ?!) que armava, gosto até dos erros que encontro.
Vou, daqui para frente, abordar algumas peculiaridades de suas histórias. Aguardem.

terça-feira, 12 de outubro de 2010


"Cai o Pano" (Curtain) é o último caso de Hercule Poirot e foi escrito em 1957 (segundo alguns), mas Agatha Christie só resolveu publicá-lo em 1975, encerrando assim a carreira de H.P.
A ação desenrola-se no mesmo local do primeiro livro de A.C. e de H.P.: a mansão Styles, agora transformada em um pequeno hotel, e seus hóspedes são o que se pode chamar de uns fracassados, mas que ainda podem ser salvos.
H.P. está muito velho, alquebrado, está numa cadeira de rodas (mas com os cabelos pretos) e, mesmo assim, vai mostrar que não perdeu os seus dons.
Morre quem devia morrer e vive quem devia viver e, é com chave de ouro que H.P. se despede.
Para não perder o rítmo, há um veneno diferente (um alcalóide estranho) e Hastings, o fiel escudeiro, continua o mesmo bobão de sempre.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010


"Testemunha de Acusação" (Witness for the Prosecution) é a segunda peça teatral mais famosa de Agatha Christie e, a meu ver, a melhor.
Ler teatro é um tanto complicado e como só li esse livro muito depois de ter assistido o filme (maravilhoso), meu julgamento ficou prejudicado.
O filme, de 1957, dirigido por Billy Wilder (genial) e tem interpretações perfeitas de Charles Laughton, Marlene Dietrich, Tyrone Power, Elza Lanchester....
A história é simples: jovem ambicioso mata mulher mais velha e rica.
O amor extremado de uma mulher levá-a ao prejúrio para salvá-lo. Para salvá-lo para outra, afinal o rapaz não valia nada mesmo. Mas o final é ótimo e nada há a crescentar.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010


"Noite sem Fim" (Endless Night) foi escrito, em 1950, num curto espaço de seis semanas, conforme informações da própria Agatha Christie.
É um dos poucos livros de A.C. que eu não gosto, embora seja bem escrito e com história verossímel. Mas não me agradam esses dramas sinistros, muito tristes, com pessoas más fazendo sofrer pessoas boas, simples e ingênuas. É o meu lado sensível, romântico e ultrapassado.
Mais uma vez A.C. faz sofrer um herdeira que, despreparada e sem apoio, cai fácil na mão dos lobos maus.
Quando da escolha do nome para a nova casa - Campo do Cigano - já ficamos sabendo que o sonho não vai dar certo.
Em 1950, como até hoje, as jovens são atacadas mas, na verdade, hoje elas também não são tão boazinhas assim.

domingo, 3 de outubro de 2010


"A Noite das Bruxas" (Halloween Party) é de 1969 e nele Agatha Christie nos leva até a uma festa de Halloween, muito popular na Inglaterra e EEUU. Estão querendo implantá-la aqui, mas está dificil as crianças entrarem nos prédios de apartamentos para, de porta em porta, pedirem travessuras ou gostosuras. Ridículo!
A escritora de livros policiais, Ariane Oliver, é uma mulher de muitos amigos, por toda a Inglaterra e, dessa vez, visita uma amiga e sua filha adolescente. Daí elas irem a tal festa infantil onde ocorre um crime bárbaro: uma jovem de 13 anos é assassinada.
Muito angustiada, ela pede ajuda a seu amigo Hercule Poirot que não se faz de rogado. Vai até a pequena cidade e, em suas andanças, sofre com seus sapatos apertados. Ele não ouve o conselho: "Depois que se passa dos cinquenta o conforto é a única coisa que interessa."
Mesmo com sapatos apertados H.P. desvenda o crime de agora e mais dois ou três acontecidos no passado.
A beleza nem sempre é uma dádiva, a ânsia pela beleza (em qualquer pessoa ou lugar) pode ser a fonte de muitos crimes.